Introdução
Soteriologia é a área da Teologia Bíblica que
estuda a questão da salvação humana.
Dentre as muitas posições soteriológicas uma
das mais importantes é a Calvinista pelo fato de levar consigo o nome de um dos
maiores reformadores da igreja cristã, o teólogo francês, João Calvino.
O
Calvinismo pode ser resumido em uma sequência de 5 (cinco) doutrinas onde suas
iniciais em língua inglesa formam o anagrama TUPLIP.
Total
Depravity (Depravação Total)
Unconditional
Election (Eleição Incondicional)
Limited
Atonement (Expiação Limitada)
Irresistible
Grace (Graça Irresistível)
Perseverance of the Saints (Perseverança
dos Santos)
Neste
texto eu abordarei as duas primeiras doutrinas e mostrarei por que não sou um
Calvinista.
Eleição Incondicional e Deus como o
autor do pecado
A doutrina da Eleição Incondicional afirma
que Deus elegeu de forma soberana aqueles que irão se salvar e por consequência,
os não escolhidos irão se perder necessariamente, visto que não existe uma
terceira opção.
Primeiramente
gostaria de defender esta doutrina de um tipo de ataque injusto que a ela é
feita: segundo a Eleição Incondicional Deus é injusto pois não salva a todos.
Apesar de não considerar a doutrina em questão verdadeira, seria desonesto de
minha parte corroborar com tal acusação e irei demonstrar através de uma pequena
ilustração o por que este não é o erro da doutrina. Imagine que você, por algum
motivo completamente desconhecido, está em um barco em alto mar e avista 3
(três) pessoas nadando perdidas. Ao se aproximar delas, percebe que se trata de
3 assassinos que foram condenados à pena de morte e portanto, foram jogados em
alto mar à deriva. Você, apesar de não possuir obrigação nenhuma de salvar
qualquer um deles que seja, decide por pura misericórdia salvar 1 (um) dos 3.
Perceba que se você não tivesse avistado aqueles homens e se compadecido de 1
deles com certeza todos os 3 morreriam como punição pelos seus crimes. Assim
como você não possui obrigação nenhuma de salvar qualquer 1 deles que seja, Deus não tem obrigação nenhuma de salvar
qualquer ser humano que seja. Ainda que Deus, soberanamente, decidisse salvar
apenas 1 de nós ele não estaria sendo injusto com os demais pois o salário do
pecado é a morte e, como pecadores que somos, nada temos de reclamar em nosso
favor.
Tendo feita minha defesa acerca de uma
acusação específica contra a Eleição Incondicional irei, agora, demonstrar por
dois caminhos por que ela é falsa
.
·
Primeiro
erro
– Deus como autor do pecado
A
Eleição é um conceito que de fato existe na Bíblia e se refere aqueles que Deus
elegeu para ele e portanto, para a salvação. Existe dois critérios conflitantes
que são apresentados como explicação para a forma como Deus elege: a predeterminação e a presciência. A primeira é a explicação Calvinista e defende que
toda a história é determinada por Deus e
portanto a eleição é apenas fruto da soberania divina. Já a segunda teoria diz
que Deus elege segundo seu conhecimento prévio do futuro e portanto, Deus não determina a história porém ele a
conhece completamente desde sempre.
A
grande aberração da primeira teoria é que, se ela for verdadeira, Deus passa a
ser por consequência o próprio autor do pecado.
·
Segundo
erro – A Bíblia diz o contrário
Mesmo
que não seja injustiça da parte de Deus salvar apenas alguns e não a todos, uma
dúvida fica no ar: se Deus é benevolente, amoroso, misericordioso, compassivo,
benigno, e ao mesmo tempo todo-poderoso, presume-se que ele salvaria a toda a
raça humana. Ao analisarmos a bíblia, podemos perceber que, de fato, é essa a vontade de Deus: salvar a todos.
[1 Tm 2:4] [2 Pe 3:9] [Tt 2:11] [At 2:21] [Rm 5:18] [1 Jo 2:2];
A
pergunta a ser feita na sequência é: se Deus quer salvar a todos, por que não
faz isso? A resposta encontra-se a seguir.
Depravação Total versus Livre arbítrio?
É importante lembrar que a doutrina da
Depravação Total advém de Santo Agostinho (Agostinho de Hipona) que foi um dos
primeiros e grandes teólogos e filósofos da igreja cristã. João Calvino, tendo
nascido muito tempo depois de Agostinho, foi extremamente influenciado por ele
assim como Lutero também o foi.
A
doutrina citada anteriormente afirma que o Pecado Original (pecado do primeiro
casal) afundou os seres humanos em um estado de depravação de todos os aspectos
humanos, físico, mental e espiritual. Dessa forma o ser humano não tem
condições, por si próprio, de fazer ou de querer o bem e a Deus. Portanto, o
livre-arbítrio é completamente negado pelos Calvinistas.
Apesar
de acreditar na doutrina da depravação total, acredito também no livre-arbítrio
do ser humano mediante um elemento ignorado pela teologia Calvinista: a influência
do Espírito Santo de Deus sobre os seres humanos. Dessa forma acredito que, ainda que o homem seja corrupto em todas as
esferas de sua natureza, ele pode escolher livremente o bem, pois o poder do
Espírito Santo o torna capaz disso. Portanto, a resposta para a pergunta
deixada em aberto no tópico anterior é: enquanto alguns seres humanos escolhem
de forma livre e voluntária a salvação oferecida por Deus, outros escolhem de
forma livre e voluntária a perdição, logo Deus salva aqueles que se decidem por
ele e condena aqueles que o rejeitaram.
Esta
influência do Espírito de Deus citada anteriormente tem o nome de Graça
Preveniente de acordo com John Wesley, teólogo e filosofo cristão de
nacionalidade britânica. Segundo Wesley a Graça
se divide em 3: Preveniente (torna
possível ao ser humano escolher de forma livre a salvação ou a perdição), Justificadora (justifica, mediante o sacrifício
de Cristo, todo aquele que aceitar tal sacrifício) e Santificadora (atua por toda a jornada cristã santificando o
cristão e restaurando sua natureza pecaminosa, tornando-a pura e reta [Sl 51:10]).
Conclusão
Apesar do Calvinismo
partir de uma ideia verdadeira e bíblica, a Depravação Total, acaba se
mostrando uma soteriologia falsa e anti-bíblica logo em sua doutrina seguinte,
a Eleição Incondicional.